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Este blog foi criado essencialmente criado para contar os episódios desta fase da minha vida. Tenho tantos familiares e amigos a quererem saber como descobri que estava doente e como estou no momento presente, que decidi contar tudo aqui, neste espaço, etapa por etapa, dia a dia.

dia 129 - 6 de Julho

hoje foi dia de hospital, no fim de três meses, cá estou eu novamente, fui primeiro tirar análises e depois voltei à consulta. Logo à entrada tive um encontro com uma das minha protegidas da radioterapia, a rapariga cabo-verdiana, não sei se lembram, mas que estava sózinha, veio do seu país sem familiares, para se tratar. Lá estava com o seu saco para vomitar. Perguntei-lhe como estava, se estava a fazer quimioterapia, disse-me que sim, e que estava mal, dá-me dó ver estes casos, de pessoas que vivem em países em que não existem condições para se fazer qualquer espécie de prevenção para estas outras muito mais simples. É desses que eu tenho pena, porque os que cá vivem e podem fazer prevenção e não a fazem porque não querem, são responsáveis pelos seus actos, desses não tenho tanta pena. Agora esta desgraçada, que sofre porque para ela um cancro no colo do útero deve ser completamente desconhecido e provavelmente nunca ouviu falar de citologia. Tenho muita pena. Cumprimentei-a e desejei-lhe as melhoras.Depois foi a espera pela consulta, foram muitas horas das 16 às 19.30 quando saí do hospital. Lá mostrei a minha mamografia, a médica esteve a ver as imagens com cuidado e lá ia dizendo que o meu peito é complicado, o que não é surpresa para mim. Passou -me a receita do Tamoxifeno, e mais um TAC para fazer em Setembro, antes de a visitar outra vez. Nessa altura também tenho de levar a cintigrafia já feita, cujo relatório me esqueci de levar. Também falei à minha médica das minhas mudanças de regime alimentar, disse-lhe que tinha estado a ler o livro Anti-Cancro, que isso me motivou para uma mudança alimentar e de estilo de vida. Perguntei-lhe qual era a sua opinião. Mostrei-lhe a minha perspectiva, de que se posso fazer alguma coisa para tentar não ter a doença outra vez, ainda que não haja provas sobre isso, posso ao menos tentar, é isso que estou a fazer. Ela concordou comigo e não acha disparate nenhum, claro que podem ter sido palavras de circunstância, mas gostei de lhe dizer.Deixem-me dizer-lhes ainda que o ambiente na oncologia é sempre pesado, há sempre pessoas muito tristes à espera de consulta ou tratamento, às vezes ponho-me a pensar, como é que as pessoas encaram a sua doença pela sua cara, não é fácil e é pena que não haja um acompanhamento psicológico ou psiquiátrico, para aqueles que necessitam.

Dia 128 - 29 de Julho

Hoje fui buscar o relatório da minha mamografia e ecografia, leio com desconfiança o mesmo, lembro-me agora com mais insistência da mamografia que fiz antes de ficar doente, em que a médica via um quisto, que passado seis meses, se veio a "transformar" num carcinoma. Tenho sempre dúvidas, porque os médicos são cautelosos nas palavras que escrevem nos relatórios, mas a verdade é que eles não conseguem ver tudo nas imagens, porque é disso que se trata e isso assusta-me. Para quem nunca teve esta doença, é mais fácil encarar com segurança um relatório de um exame médico, mas para quem já teve e desconfiança é maior. É isto que sinto.