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Este blog foi criado essencialmente criado para contar os episódios desta fase da minha vida. Tenho tantos familiares e amigos a quererem saber como descobri que estava doente e como estou no momento presente, que decidi contar tudo aqui, neste espaço, etapa por etapa, dia a dia.

Dia 131 - dia 27 de Setembro

Mais um dia de consulta, no HSM. Já se tornou uma rotina, primeiro as análises e depois a consulta. Mas confesso que cada vez que lá vou me custa mais, vejo todas aquelas pessoas doentes, com a doença que todos conhecemos o nome e alguns a conhecemos na pele e queremos esquecer, pelo menos eu quero mas está difícil. Esperei algum tempo, mas é tão bom ouvir a médica dizer que está tudo bem, que o TAC está OK. Agora só volto no próximo ano.
Quero agradecer aos muitos comentários que continuam, e às minhas amigas e companheiras de luta, infelizmente ainda não é no dia 16 que vou conhecê-las, já tenho um programa.
Entretanto, a vidinha continua, já estou completamente adaptada ao trabalho e aos seus famigerados horários infléxiveis, às actividades dos meus filhos, aos estudos e ao seu acompanhamento e a uma pequena diversão ao fim-de-semana.

Dia 130 - 14 de Setembro

De volta aos exames, é verdade, ainda não passaram 3 meses mas a oncologista não me dá descanso, lá fui eu fazer um TAC. Ia tranquila, porque já tinha feito um antes da quimioterapia e não custou nada. Santa ignorância a minha, porque desta vez como foi torácico, abdominal e pélvico, tive de beber um "sumo" com sabor a groselha. À primeira vista parece bom, mas a quantidade é enorme e como tal cai muito mal no estômago. Assim, quando entrei para fazer o exame, uma hora depois de ter chegado, já estava muito mal disposta com a bebida. Para além disso, ainda me injectaram um contraste, pior, deu-me uma sensação de calor horrível e uma vontade para ir à casa de banho urinar. Até cheguei a pensar que tinha urinado pelas pernas abaixo. O que vale, é que o exame é rapido. Depois de me vestir, o médico veio falar comigo, e dizer-me que está tudo bem. Apenas tenho uns quistos nos rins. O que eu já sabia.
Preparava-me eu para ir trabalhar, a seguir, mas a verdade é que o meu estômago estava uma rodilha. Vim para casa descansar um pouco e só à tarde é que fui trabalhar. Ainda muito mal disposta, indisposição que se manteve ao longo do dia e pela noite fora.
O mais importante é estar tudo bem. Fico mais tranquila.

Dia seguinte 27 de Agosto de 2010

Não acredito em coincidências mas que elas existem, é verdade. Vejam esta, estava eu muito bem em férias na semana passada, dia 27 ,há exactamente um ano começei a quimioterapia e como podem constatar pelo blog, passei a tarde e a noite toda a vomitar, como é normal para quase todas as pessoas que passam por estes tratamentos. E não é que este ano no mesmo dia à noite, depois do jantar fiquei muito mal disposta e vomitei o jantar todo. É impressionante, não tinha vomitado desde que terminei os tratamentos.

Dias seguintes - férias Julho de 2010

Como já há muito não veêm a minha imagem e como o meu cabelo cresce a ritmo acelarado, aqui vai uma foto minha. Madame Tussaud, Londres, com um dos meus ídolos Nelson Mandela e outro dos meus ídolos, Francisco Melo. O mais pequeno, Gonçalo e o mais velho pai não ficaram na foto

DIA SEGUINTE - dia 22 de Julho de 2010

faz um ano que fui operada, pode o tempo passar mas acho que não me vou esquecer desta data. Os acontecimentos da nossa vida são feitos de momentos bons e maus, ainda que só queiramos recordar os bons, os maus também ficam no pensamento. E este ano está tudo muito fresco na minha memória, é impossível passar uma borracha e esquecer que há um ano estava no bloco de operações e daí para a frente a minha vida mudou tanto, eu mudei tanto, e vejo e sinto a vida de uma outra forma. É dificil de explicar, mas a verdade é essa. Não é que esse dia tenha sido o dia mais relevante em termos de doença, mas marca o ponto de viragem, depois da cirurgia e com análise dos tumores o meu destino/tratamento foi definido. O calvário teve o seu início e daí esta data ter ficado gravada na memória.

dia 129 - 6 de Julho

hoje foi dia de hospital, no fim de três meses, cá estou eu novamente, fui primeiro tirar análises e depois voltei à consulta. Logo à entrada tive um encontro com uma das minha protegidas da radioterapia, a rapariga cabo-verdiana, não sei se lembram, mas que estava sózinha, veio do seu país sem familiares, para se tratar. Lá estava com o seu saco para vomitar. Perguntei-lhe como estava, se estava a fazer quimioterapia, disse-me que sim, e que estava mal, dá-me dó ver estes casos, de pessoas que vivem em países em que não existem condições para se fazer qualquer espécie de prevenção para estas outras muito mais simples. É desses que eu tenho pena, porque os que cá vivem e podem fazer prevenção e não a fazem porque não querem, são responsáveis pelos seus actos, desses não tenho tanta pena. Agora esta desgraçada, que sofre porque para ela um cancro no colo do útero deve ser completamente desconhecido e provavelmente nunca ouviu falar de citologia. Tenho muita pena. Cumprimentei-a e desejei-lhe as melhoras.Depois foi a espera pela consulta, foram muitas horas das 16 às 19.30 quando saí do hospital. Lá mostrei a minha mamografia, a médica esteve a ver as imagens com cuidado e lá ia dizendo que o meu peito é complicado, o que não é surpresa para mim. Passou -me a receita do Tamoxifeno, e mais um TAC para fazer em Setembro, antes de a visitar outra vez. Nessa altura também tenho de levar a cintigrafia já feita, cujo relatório me esqueci de levar. Também falei à minha médica das minhas mudanças de regime alimentar, disse-lhe que tinha estado a ler o livro Anti-Cancro, que isso me motivou para uma mudança alimentar e de estilo de vida. Perguntei-lhe qual era a sua opinião. Mostrei-lhe a minha perspectiva, de que se posso fazer alguma coisa para tentar não ter a doença outra vez, ainda que não haja provas sobre isso, posso ao menos tentar, é isso que estou a fazer. Ela concordou comigo e não acha disparate nenhum, claro que podem ter sido palavras de circunstância, mas gostei de lhe dizer.Deixem-me dizer-lhes ainda que o ambiente na oncologia é sempre pesado, há sempre pessoas muito tristes à espera de consulta ou tratamento, às vezes ponho-me a pensar, como é que as pessoas encaram a sua doença pela sua cara, não é fácil e é pena que não haja um acompanhamento psicológico ou psiquiátrico, para aqueles que necessitam.

Dia 128 - 29 de Julho

Hoje fui buscar o relatório da minha mamografia e ecografia, leio com desconfiança o mesmo, lembro-me agora com mais insistência da mamografia que fiz antes de ficar doente, em que a médica via um quisto, que passado seis meses, se veio a "transformar" num carcinoma. Tenho sempre dúvidas, porque os médicos são cautelosos nas palavras que escrevem nos relatórios, mas a verdade é que eles não conseguem ver tudo nas imagens, porque é disso que se trata e isso assusta-me. Para quem nunca teve esta doença, é mais fácil encarar com segurança um relatório de um exame médico, mas para quem já teve e desconfiança é maior. É isto que sinto.

dia 127 21 de Junho

Hoje é dia de mamografia, faz dia 23 um ano que eu estava a fazer a minha mamografia e descobria a doença. Hoje foi dia de check up, o primeiro depois dos tratamentos. Está tudo bem. Pela primeira vez um médico fala-me da alimentação, e se eu tinha mudado a minha alimentação depois da doença. Pois mudei e muito e conto ainda mudar mais. Ele acredita que a alimentação e o exercício físico, são dois factores muito importantes nesta doença, eu também acredito, por tudo o que li e que continuo a ler. Estou a pensar ir a uma nutricionista e esse também foi um dos conselhos dele. Passei por muitos médicos, mas pela primeira vez ouvi falar de um assunto que me parece tão importante.
Não posso deixar sem agradecer a todos os que continuam a ler o meu blog e a deixar as suas mensagens

Dia 13 de Junho - Faz um ano

Pois é tenho andado arredada do blog, mas hoje não podia de deixar de aqui passar, faz um ano que descobri os meus dois nódulos, nem dá para acreditar aquilo que vivi durante o último ano, mas passou. Hoje tive um dia bem passado, fui ao golf com os meus filhos e marido e agora descanso em casa. O que eu sinto hoje, é que sou uma pessoa diferente, bem diferente, daquela que há um ano ficou doente. Faço o que posso por estar bem comigo e com os outros, faço o que está ao meu alcance para não voltar a ficar doente, estou mais sensível por um lado, mas mais forte por outro. O que eu quero é aproveitar ao máximo a vida, e sobretudo ver os meus filhos crescerem felizes.

Dia seguinte - 31 de Maio

Tenho estado muito absorvida com a leitura de um livro magnífico intitulado Anti-Cancro. De facto depois da doença, e em particular desta, procuro incessantemente o que posso fazer para não voltar a tropeçar nela, não existem garantias, mas como o autor nos diz, se há algo que podemos fazer, porque não fazê-lo. A verdade é que tenho devorado o livro, na busca incessante de informação. O autor David-Servan Schreiber, também esteve doente e fez uma investigação "séria" parece-me pelo menos, sobre o que podemos fazer sobretudo no que toca alimentação, estilo de vida para que não volte haver re-incidências. Eu, da minha parte conto seguir alguns dos princípios do livro.

Dias seguintes - 26 de Maio

Ontem à noite recebi um telefonema da minha prima que também está doente, tenho-lhe dado algum apoio por telefone é claro, porque ela vive no Porto, sempre tentando alerta-la para as diversas fases dos tratamentos que entretanto iniciou. Ontem ligou-me, para me dizer que apesar do cabelo ter caído e ter grandes peladas no couro cabeludo, já começou a utilizar a sua cabeleira e já saíu com ela. Sentiu-se bem e eu senti ao telefone que uma fase está ultrapassada, ou seja para muitas pessoas a queda do cabelo associada à QT é um problema e também o era para a minha prima, mas ontem depois de ter saído com a sua cabeleira e de ter recebido uma amiga que nem deu pela mesma, sente-se confiante e passou o estado de nervos em que vivia, por saber que o cabelo lhe ia cair. Fiquei feliz por ela, é como se fosse minha tia, minha madrinha, tem a idade da minha mãe, não tem filhos, mas para mim é como uma madrinha. Eu ia lá para casa desde muito pequenina e eles, a minha prima e o meu primo, tomavam conta de mim como uma filha. Tenho muito boas recordações desses tempos, mas ao longo da minha vida tem-me acompanhado como a uma afilhada, e particularmente no período em que estive doente, telefonavam-me, às vezes em dias seguidos para saberem como eu estava e para me darem animo.
Entretanto, o meu cabelo vai crescendo, mas está dificil de domar com o pente, está todo encaracolado, o que é estranho, tão encaracolado, que já tive de o aparar no cabeleireiro. Devo contar-vos que para além de encarracolado, está forte como eu nunca tive. É estranho, mas julgo que por causa da QT as células que nascem, devem vir com mais força, o organismo ficou limpo e agora renasce com mais força. É estranho e engraçado.

Dias seguintes - 18 de Maio

Dias complicados, estes parece que à minha volta só sei de notícias de doenças oncológicas, a semana passada morreu o Saldanha Sanches, ontem soube que o Miguel Portas também está doente, no IPO, não sei bem com quê, a semana passada confrontei-me com a morte da mãe de uma amiga com cancro da mama, hoje soube que Luz Casal está com uma recidiva, apareceu-lhe um tumor na outra mama. É impressionante, agora que tenho de estar optimista e pensar que tudo vai correr bem, parece que me perseguem as notícias de doença.
Quanto a mim e apesar das notícias tento rumar para um estilo de vida mais saudável, procuro comer apenas aquilo que me faz bem, estou sempre à procura de informação relevante sobre esta temática: como muitos legumes e frutos crus, muito peixe e vegetais e pouca carne, vermelha nem toco, muitos cereais( aveia logo pela manhã), frutos vermelhos, muitos, amoras, mirtilhos, framboesas, bebo muito chá verde, vinho tinto, pelo menos um copo a algumas refeições, leite de vaca está proibido, bebo leite de arroz. Ao mesmo tempo tento, fazer diariamente actividade física, faço um grande esforço diário, porque existem outros compromissos, mas tento arranjar pelo menos 30 minutos para andar ou correr, no parque perto da minha casa, nem que seja às 7.30 da manhã, como já tem acontecido alguns dias. Outra aprendizagem, é aprender a viver sem stress, é muito importante.

Dias seguintes - 11 de Maio

Hoje parecia ser ser um dia normal de trabalho, mas à hora de almoço lá tivémos conhecimento da nossa saída mais cedo, às 16 horas. Já estava com uma vontade de ir à missa no Terreiro do Paço, mas estava indecisa. Deu-me uma vontade súbita de rezar depois de ter falado com a mãe de um amigo do meu filho mais novo. Como vivem ao nosso lado, telefonei-lhe a pedido do Gonçalo, para ver se o filho estaria disponível para brincar com o meu filho. Do outro lado, do telefone responde-me uma voz entristecida. Ao que perguntei se estava tudo bem, ela começou a choramingar e disse-me que a mãe tinha morrido em Março. Tinha a mesma doença que eu, teve uma recidiva passados 14 anos sobre os primeiros tratamentos. Várias vezes tinha perguntado pela senhora, que eu não conhecia pessoalmente, mas estava longe de imaginar este fim trágico. Da última vez que estive com a filha, fiquei com a sensação que a senhora estava em tratamentos, mas nunca imaginei que estivesse à beira de uma fase terminal da doença. Acho que a própria filha também não suporia. Para mim estas notícias, abalam-me terrivelmente, eu sei que é assim, que pode acontecer, a mim e a qualquer pessoa que tenha tido cancro da mama, mas é muito difícil lidar com esta guerra interminável, cujo número de batalhas não conhecemos à partida, nem o sucesso delas.
Depois desta conversa fui mesmo à missa rezar por todos os que tiveram a doença , em especial pela mãe da Cláudia, que está no céu.
Foi bonita a missa, no fim lá encontrei o meu filho, mais velho que foi com o colégio.

Dias seguintes - 10 de Maio

A verdade é que ainda estou com dificuldade em compatibilizar as tarefas profissionais com as pessoais e familiares, sobretudo, porque é muita coisa para gerir ao mesmo tempo, são os filhos a idas e vindas, os compromissos escolares, as actividades desportivas, etc, são as compras, são as tarefas da empregada, tudo ao molhe e fé em Deus, como se costuma dizer. Ás vezes sinto-me incapaz, sem que a cabeça e o corpo consigam absorver tudo. Estou destreinada deste ritmo e tenho que dar tempo a mim mesma para o conseguir.
Este fim-de-semana, foi violento nesta matéria porque os meus filhos estão cheios de compromissos com a vinda do papa e isso obriga a uma logística diferente.

Dias seguintes 3 e 4 de Maio

Sinto-me mentalmente melhor, já me habituei aos procedimentos do trabalho, pelo menos daqueles com que me vou confrontando, a memória falhou durante bastante tempo, porque não estava mecanizada para isto, teve um intervalo para se preocupar com outras coisas, bem piores durante nove meses, mas agora, volta a trabalhar, leva o seu tempo a recuperar o tempo perdido mas devargazinho e com alguma ajuda, vai lá. Não me sinto cansada ao fim do dia, estou bem, por estranho que pareça o estar todo o dia a trabalhar, sentada não dá cansaço físico, mas sim psiquico, ao contrário dos dias passados em casa, como eu não estava muito tempo parada, chegava ao fim do dia cansada. De qualquer forma, deito-me cedo, tenho mantido a minha rotina da leitura, não tenho ido por à escola os miúdos, ainda não me consigo preparar em tempo útil de os ir pôr à escola, mas com tempo vou lá

dias seguintes- 1 e 2 de Maio

Primeiro fim-de-semana a trabalhar, o tempo é pouco, tem de ser bem aproveitado, mas a verdade há compromissos a que não podemos fugir. No sábado, estive a servir de motorista, levar um à Kidzania, e o meu marido e filho mais um amigo ao ténis. Ao fim da tarde repetir o mesmo itinerário. Entretanto, dei uma volta no Dolce Vita Teja, bela porcaria pelo menos para mim. Fui às compras de supermercado e pouco mais. No Domingo, a prol também foi ao ténis, é um vício saudável, mas desta vez levaram o carro, antes disso tive de me organizar para ir ao supermercado. É preciso não esquecer que a próxima semana, é toda a trabalhar, e como tal a casa tem de estar abastecida para os meus comilões. Bem-vinda de volta às compras de supermercado ao fim-de-semana, cheios de gente, filas intermináveis de pessoas, já me tinha desabituado, mas tem de ser. depressa nos habituamos às rotinas a que o trabalho nos obriga.

Dias seguintes - 29 e 30 de Abril

Lá fui para o emprego a baixa terminou a doença terminou (?) e por isso de volta ao mundo real. Levei um bolo para confraternizar com os meus colegas, é muito importante para mim este regresso é sobretudo sinal de que estou bem e regresso para trabalhar. O primeiro dia foi confuso, todos muito simpáticos vieram cumprimentar-me, alguns eu já não via desde que fiquei doente. Ofereceram-me um ramo de flores lindissímo. E mais importante ,já começei a produzir trabalho. Começo com muita calma, tem mesmo de ser, a minha cabeça depois da QT não é a mesma, ainda estou um pouco desmemoriada, tenho de recuperar os procedimentos de trabalho, com calma um a um. No final do 1º dia estava com um pouco de dores de cabeça, mas é natural. O 2ª dia já estive mais adaptada. Vai ser um dia de cada vez, sem grandes stresses porque a minha saúde não o permite.
Por estes dias a minha prima que está doente, também soube que tem de fazer QT. Não é de admirar, pelo menos para mim. Não sou médica, mas desde que fiquei doente, informei-me melhor sobre esta doença e como tal para mim não foi surpresa. Mas para ela foi, julgo que não houve alguém que lhe abrisse os olhos e lhe mostrasse a realidade. É estranho, mas quando se passa connosco, por muito que saibamos, nunca queremos acreditar. Já lhe dei o meu apoio ao longe porque ela vive no Porto, mas mostrando-lhe o meu exemplo, acho que é suficiente. A verdade é que esta doença me tornou mais forte, para encarar as tempestades e já não as olho como tão perigosas. Por enquanto, vou dando notícias neste blog, com a frequência que o tempo me permitir.

Dias seguintes - 26, 27 e 28 de Abril

Segunda-feira ainda foi um dia complicado para o meu pé, mas ontem e hoje estou bastante melhor. Desmarquei a hipotética consulta para renovar a baixa e fui fazer o penso. Amanhã retomo a minha rotina de trabalho. É com pensamento muito positivo, porque estou com saudades das minhas colegas de trabalho e do trabalho em si, sobretudo porque é sinal que estou melhor, estou recuperada, depois de passar o inferno vem a bonança. Acho que aprendi alguma coisa durante este tempo que estive doente. Vou ainda voltar ao blog para contar como está ser a minha adaptação, e depois deixarei de escrever.

Dias seguintes - 23, 24 e 25 de Abril

Quando tudo se parecia compor, eis que vem uma que não estava à espera. Pois é hoje fui tirar um sinal no pé, mas tranquila porque a médica tinha-me dito que podia fazer a minha vida normal. Mas dificil, porque não consigo andar, é debaixo do pé. Não custou nada a tirar, porque levei anestesia, o pior foi quando o efeito da anestesia passou. Tive dores imensas, o pé está inchado e nem consigo calçar um sapato. Como tal o fim-de-semana foi tranquilo, com o pé em repouso, de preferência ao alto. No domingo, ainda tive de passar pelo Centro de Saúde, porque ao fazer o penso, o sítio é de dificil acesso, não consegui tirar um pequeno algodão, estava agarrado aos pontos. Então lá fui ao Centro de Saúde, a enfermeira foi muito simpática, atendeu-me imediatamente, fez-me o penso e pediu-me para voltar na Quarta-feira, para novo penso.

Dias seguintes - 20, 21 e 22 de Abril

Nestes dias cumpri a minha rotina de um passeio diário pela manhã, calha mesmo bem e que bem que sabe. De resto muitos afazeres, porque estou quase a ir trabalhar, fui levantar um exame, a cintigrafia óssea, mas está tudo bem, já tenho cópia das minhas análises para mostrar ao meu primo, fazer as compras de supermercado, almoços com amigas, etc.
Engraçado é ver as reacções das pessoas, que antes não imaginavam a minha doença, por causa da cabeleira e agora face ao nova visual, cabelo muito curto, deduzem da minha doença e são sempre muito simpáticas e cuidadosas. Isto acontece na escola dos meus filhos, tenho tido manifestações da grande carinho. Estou habituar-me muito mal.

Dia 126 - 19 de Abril

Já a semana passada iniciei umas passeatas em passo acelarado, mas esta semana quero ver se o faço todos os dias. Vamos ver. Hoje deixei os miúdos logo de manhã na escola e segui para o belissímo parque que existe mesmo ao lado da minha casa. Não levo nada nas mãos, uns ténis bons, fato treino e uma garrafa com chá. Meia hora a 45 minutos a andar, chego a casa a transpirar, mas faz-me muito bem. Depois fui para as comprar, tive uma amigo do meu filho a almoçar e a lanchar cá em casa, e como tal tinha de comprar alguns mimos, um sumo, um gelado para sobremesa, etc. Aliás o meu filho já tem noção de que quando temos visitas compramos algo diferente, quando saíu do carro para a escola, disse-me mãe não te esqueças de comprar sumo para o almoço. Entre outras coisas mais importantes, estas também se passam de pais para filhos. À tarde fui à natação com o mais novo, agora que tirei a cabeleira aproveito sempre para ver a aula toda, ele fica todo contente. Já me esquecia, do mais importante, consegui falar com a médica, falei-lhe dos genéricos e da minha vontado em não os tomar. Disse que com certeza não haveria problemas, não discuti a eficácia dos mesmos, porque foi ao telefone, fica para a próxima consulta. Também me vai dar cópia das análises relativas ao fígado, quero mostrar ao meu primo que é gastroenterologista.

Dias seguintes - 17 e 18 de Abril

Fim-de-semana normal, fomos no sábado almoçar ao Casa Nova, para os lados de Santa Apolónia, é o restaurante preferido dos meus filhos, porque tem umas pizzas muito boas. Ao jantar tive uns amigos por cá, por isso passei parte da tarde a preparar o jantar, fiz uma "pie" de frango, não é para me gabar mas estava muito boa e a sobremesa foram morangos com chantilly e chocolate quente. Dá-me uma grande e cada vez maior prazer cozinhar. O pior é pensar em tudo o que se tem de comprar. Mas vale a pena pelo convívio, que para mim é do melhor que há. No domingo, fiquei por casa, já há trabalhos, os miúdos à tarde foram jogar ténis e eu fiquei pacata por casa, entre o computador, o livro e a televisão.

Dia 125 - 16 de Abril

Hoje de manhã bem cedo fui fazer uma cintigrafia osséa. Na verdade, já estou tão acostumada a fazer exames que já nada me custa. Fui, injectaram-me o produto radioactivo e voltei para casa. Passado 3 horas lá estava novamente para fazer o exame, que não custa nada. À tarde estive por casa até ir à escola dos miúdos. Depois foi o ténis e a natação.

Dias seguintes - 14 e 15 de Abril

Afazeres muitos, em vésperas de começar a trabalhar, tenho procurado dar um passeio todas as manhãs, porque estou há muito sem fazer exercício físico, e tenho andado cerca de 40 minutos por dia. A pele continua a recuperar lindamente, com 3 aplicações de Biafine diárias. Para além disto, é a habitual rotina, levar os miúdos à escola, assuntos administrativos para resolver através do computador, ir ao correio, compras, etc. Um dia destes fui mostrar o meu look à minha cabeleireira, que gostou, também acha que me fica muito bem o cabelo assim curto. Quinta-feira, fui dar uma volta ao centro histórico, estou cada vez mais fã da zona do Chiado. Cada vez que lá vou encontro sempre lojas novas.

Dia 124 - 13 de Abril

Levantei-me cedo como habitualmente para ir por a rapaziada à escola e logo depois fui tratar de uns assuntos pessoais, entre os quais ir ao HSM, levantar o Tamoxifeno. Quando estava na farmácia e a funcionária me entregou as embalagens do medicamento, diferentes das primeiras que eu tinha levado, realizei que me estavam a dar genéricos. E sabendo disso pensei, mas porque hei-de eu tomar um genérico, se considero que os medicamentos (originais) são melhores, já comprovei com o Benuron e já ouvi médicos dizerem que não receitam genéricos aos seus pacientes. Decidi que vou falar com a minha médica, mas ela esta semana está de férias, fica para depois. As minhas companheiras de doença e minhas seguidoras o que acham do assunto, deem-me as vossas opiniões.
Ainda tive tempo de estar com uma das minhas companheiras de radio, estivémos a colocar a conversa em dia.
À tarde mais assuntos a tratar, umas lojas, e voltar para casa para me juntar aos meus filhos ao fm da tarde.

Dia seguinte - 12 de Abril



Voltei à minha vida normal, com as aulas dos miúdos a recomeçarem. Eu por enquanto, vou colocando os meus cremes na área de incidência da radioterapia, mas a verdade é que a pela está bastante melhor. Para além disso, enviei um mail ao meu director a comunicar que em princípio recomeçarei a trabalhar no dia 29 de Abril, estou em contagem decrescente para isso, apetece-me voltar à vida activa, é sinal que estou viva e com saúde. O meu director, foi simpático, respondeu-me dizendo que fica feliz com o meu regresso, sobretudo porque isso significa que estou boa. Isso é o mais importante.
Hoje também vos queria contar que fui vítima de algum egoísmo por parte de alguém muito próximo, ninguém quer esta doença, mas achar que o pior terá de ser para mim, é insuportável e doeu-me, mas não quero entrar em pormenores. Se por um lado, isto aconteceu, por outro existem pessoas muito boas que nem sequer me conhecem e que são fantásticas. Leiam o e-mail, que esta senhora me enviou:


Isabel,
Saudações brasileiras.
Vc não me conhece nem eu a vc.
Contudo, recebo com frequência seu relato através de email.Não estou bem certa de como vc veio a meus contatos, creio ter sido uma conhecida dos Açores,Ana Taveira, a quem tb só conheço por emails e afinidades.
Quero cumprimentá-la, Isabel!
Confesso-lhe que apenas lia seus emails e lutava para não me aprofundar no que vc expunha. Evito assunto de doença. Sou Enfermeira aposentada, 72 anos de idade, 36 anos de trabalho na área da saúde, 10 dos quais na Amazõnia, 10 de professora de Enfermagem em São Paulo,e 10 de área hospitalar em SP tb, mais 6 de professora primária e outras atividades,nesse baile do viver.Passei um ano em Moçambique através da ONU admitida para ensinar Enfermagem , pelo Ministério da Saúde de lá.
A razão também de eu evitar falar de doenças é para não me esfolar, não me emocionar...aliás nem noticiário eu escuto com frequência, só qdo não dá tempo de mudar o canal. Rádio, escuto a Antena 2 de Lisboa: música clássica dia inteiro...Tive infarto ...deve ter sido pela ascenção do LULA...A propósito, sou brasileira e moro em São Paulo.
O assunto e o conhecimento de coisas referentes à saúde, costumo afirmar glosando que me foi apresentado somente nesta encarnação...não sou espírita mas acho divertida a idéia de haver coisas que ,parece ,a gente nasce sabendo...
Então acompanhar o seu tratamento, foi coisa pra mim, do tipo, saber o que vc falava, saber quase tudo do tatamento imaginar seu estado de espírito, impotência por nada poder ajudar, e muita vontade de saber o que fazer...e o tempo passando!
Como nunca tinha visto uma foto sua, imaginava-a assim uma senhora da minha idade e cheia de experiência.
Dia desses vc postou aquelas fotos suas:
Ao ver a sua idade,Isabel, eu tive uma crise de choro que até hoje não entendi bem porque...mas passei a ter um carinho muito grande por vc, foi como ver uma filha ( que nunca tive pq sou solteira sem filhos) e a torcer pelo seu completo restabelecimento.
Assim como não sei como nem pra que vc apareceu na minha vida, eu lhe escrevo hoje, simplesmente para lhe dizer isto: Vc está no meu coração.
Sirlene´"

A verdade é quem chorou depois de ler este e-mail fui eu, fantástico, há pessoas neste mundo de uma sensibilidade fantástica. Até me comove escrever sobre isto.

Dias seguintes - 6, 7, 8, 9 10 e 11 de Abril

Os meus mais que tudo, os meus filhos e o meu sobrinho neto
Tive uns dias fora, mas acabo de voltar. Fui aos Açores, ter com os meus filhos, que não tinham companhia para a viagem de regresso, fui conhecer o meu sobrinho neto, que é um apetite, é tão querido, lindo de morrer e ainda por cima é super simpático. Mas sobretudo, fui descansar de médicos, hospitais e tratamentos que bem preciso, sem fazer absolutamente nada. Tão bom. Foi bom, muitos primos e tios me visitaram e ainda recebi prendas ( o que não estava a espera), fui jantar a casa de amigos e da minha cunahada Margarida, tive a lanchar com outro amigo, dar passeios, enfim, um programa social intensíssimo. A única preocupação foi a minha prima que já foi operada e parece que tem os gânglios positivos. Enfim tenho pena, porque sei que estas coisas custam e de que forma, mas tem de se passar.
P.S. Vou continuar este blog até voltar a trabalhar, se calhar não como uma frequência diária, mas mais ou menos.

Dia 123 - 5 de Abril

Hoje foi dia de festa para mim, claro fui ao último tratamento, muito cedo, desta vez foi logo 10 minutos antes das nove. O meu marido quis acompanhar-me e assim foi. De seguida, fui a casa, para depois ir à consulta da oncologista. Lá estive, parece que está tudo bem, só tenho de voltar daqui a 3 meses. Entretanto, vou fazer uma cintigafia ossea, por causa das minhas queixas nos ossos e uma mamografia, mas esta última, só no fim de Junho. A médica também me recomenda não pintar o cabelo por agora e iniciar o tratamento com o Tamoxifeno, já amanhã. De resto tudo normal, encontrei uma das minhas companheiras da QT, lá colocámos a conversa em dia.

Retrospectiva em imagens


Agosto de 2009 , antes de iniciar a quimioterapia


Setembro de 2009, depois do 1º corte de cabelo,em virtude da quimioterapia




Outubro de 2009 , orgulhosa da minha cabeleira e do meu novo visual



Nos dias de ressaca a seguir à sessão de QT, Outubro de 2009


24 de Dezembro de 2009 - com uma grande ressaca da 5º sessão de QT




Fevereiro de 2010 - Carnaval em família antes de iniciar a radioterapia, confesso que já não podia ver cabeleira em mim

Março de 2010 - quando tirei a cabeleira, já não podia mais, mas que frio que eu tinha nos 1ºs dias


Dias seguintes - 2, 3 e 4 de Abril

Dias de fim-de-semana comprido, foi bom, fomos ao cinema, demos passeios, almoçamos fora, tomámos café com os amigos, fizemos algumas coisas em casa, que com os miúdos é difícil. Enfim descansámos. O fim dos tratamentos está à vista é já amanhã dia 5 de Abril. Acho que não vou esquecer tão cedo esta data. Mas a verdade é que se fosse necessário continuar eu teria força e coragem para o fazer. Tudo em prol da minha vida. E de facto não há nada mais importante que a nossa saúde. Para já vou continuar a escrever no blog, pelo menos até ir trabalhar. Aconselho, no entanto, as pessoas que me quiserem continuar a seguir a fazerem-se seguidores é mais fácil, não tem de entrar diariamente no blog e são avisadas e quando há notícias.