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Este blog foi criado essencialmente criado para contar os episódios desta fase da minha vida. Tenho tantos familiares e amigos a quererem saber como descobri que estava doente e como estou no momento presente, que decidi contar tudo aqui, neste espaço, etapa por etapa, dia a dia.

Dias seguintes - 26 de Maio

Ontem à noite recebi um telefonema da minha prima que também está doente, tenho-lhe dado algum apoio por telefone é claro, porque ela vive no Porto, sempre tentando alerta-la para as diversas fases dos tratamentos que entretanto iniciou. Ontem ligou-me, para me dizer que apesar do cabelo ter caído e ter grandes peladas no couro cabeludo, já começou a utilizar a sua cabeleira e já saíu com ela. Sentiu-se bem e eu senti ao telefone que uma fase está ultrapassada, ou seja para muitas pessoas a queda do cabelo associada à QT é um problema e também o era para a minha prima, mas ontem depois de ter saído com a sua cabeleira e de ter recebido uma amiga que nem deu pela mesma, sente-se confiante e passou o estado de nervos em que vivia, por saber que o cabelo lhe ia cair. Fiquei feliz por ela, é como se fosse minha tia, minha madrinha, tem a idade da minha mãe, não tem filhos, mas para mim é como uma madrinha. Eu ia lá para casa desde muito pequenina e eles, a minha prima e o meu primo, tomavam conta de mim como uma filha. Tenho muito boas recordações desses tempos, mas ao longo da minha vida tem-me acompanhado como a uma afilhada, e particularmente no período em que estive doente, telefonavam-me, às vezes em dias seguidos para saberem como eu estava e para me darem animo.
Entretanto, o meu cabelo vai crescendo, mas está dificil de domar com o pente, está todo encaracolado, o que é estranho, tão encaracolado, que já tive de o aparar no cabeleireiro. Devo contar-vos que para além de encarracolado, está forte como eu nunca tive. É estranho, mas julgo que por causa da QT as células que nascem, devem vir com mais força, o organismo ficou limpo e agora renasce com mais força. É estranho e engraçado.

Dias seguintes - 18 de Maio

Dias complicados, estes parece que à minha volta só sei de notícias de doenças oncológicas, a semana passada morreu o Saldanha Sanches, ontem soube que o Miguel Portas também está doente, no IPO, não sei bem com quê, a semana passada confrontei-me com a morte da mãe de uma amiga com cancro da mama, hoje soube que Luz Casal está com uma recidiva, apareceu-lhe um tumor na outra mama. É impressionante, agora que tenho de estar optimista e pensar que tudo vai correr bem, parece que me perseguem as notícias de doença.
Quanto a mim e apesar das notícias tento rumar para um estilo de vida mais saudável, procuro comer apenas aquilo que me faz bem, estou sempre à procura de informação relevante sobre esta temática: como muitos legumes e frutos crus, muito peixe e vegetais e pouca carne, vermelha nem toco, muitos cereais( aveia logo pela manhã), frutos vermelhos, muitos, amoras, mirtilhos, framboesas, bebo muito chá verde, vinho tinto, pelo menos um copo a algumas refeições, leite de vaca está proibido, bebo leite de arroz. Ao mesmo tempo tento, fazer diariamente actividade física, faço um grande esforço diário, porque existem outros compromissos, mas tento arranjar pelo menos 30 minutos para andar ou correr, no parque perto da minha casa, nem que seja às 7.30 da manhã, como já tem acontecido alguns dias. Outra aprendizagem, é aprender a viver sem stress, é muito importante.

Dias seguintes - 11 de Maio

Hoje parecia ser ser um dia normal de trabalho, mas à hora de almoço lá tivémos conhecimento da nossa saída mais cedo, às 16 horas. Já estava com uma vontade de ir à missa no Terreiro do Paço, mas estava indecisa. Deu-me uma vontade súbita de rezar depois de ter falado com a mãe de um amigo do meu filho mais novo. Como vivem ao nosso lado, telefonei-lhe a pedido do Gonçalo, para ver se o filho estaria disponível para brincar com o meu filho. Do outro lado, do telefone responde-me uma voz entristecida. Ao que perguntei se estava tudo bem, ela começou a choramingar e disse-me que a mãe tinha morrido em Março. Tinha a mesma doença que eu, teve uma recidiva passados 14 anos sobre os primeiros tratamentos. Várias vezes tinha perguntado pela senhora, que eu não conhecia pessoalmente, mas estava longe de imaginar este fim trágico. Da última vez que estive com a filha, fiquei com a sensação que a senhora estava em tratamentos, mas nunca imaginei que estivesse à beira de uma fase terminal da doença. Acho que a própria filha também não suporia. Para mim estas notícias, abalam-me terrivelmente, eu sei que é assim, que pode acontecer, a mim e a qualquer pessoa que tenha tido cancro da mama, mas é muito difícil lidar com esta guerra interminável, cujo número de batalhas não conhecemos à partida, nem o sucesso delas.
Depois desta conversa fui mesmo à missa rezar por todos os que tiveram a doença , em especial pela mãe da Cláudia, que está no céu.
Foi bonita a missa, no fim lá encontrei o meu filho, mais velho que foi com o colégio.

Dias seguintes - 10 de Maio

A verdade é que ainda estou com dificuldade em compatibilizar as tarefas profissionais com as pessoais e familiares, sobretudo, porque é muita coisa para gerir ao mesmo tempo, são os filhos a idas e vindas, os compromissos escolares, as actividades desportivas, etc, são as compras, são as tarefas da empregada, tudo ao molhe e fé em Deus, como se costuma dizer. Ás vezes sinto-me incapaz, sem que a cabeça e o corpo consigam absorver tudo. Estou destreinada deste ritmo e tenho que dar tempo a mim mesma para o conseguir.
Este fim-de-semana, foi violento nesta matéria porque os meus filhos estão cheios de compromissos com a vinda do papa e isso obriga a uma logística diferente.

Dias seguintes 3 e 4 de Maio

Sinto-me mentalmente melhor, já me habituei aos procedimentos do trabalho, pelo menos daqueles com que me vou confrontando, a memória falhou durante bastante tempo, porque não estava mecanizada para isto, teve um intervalo para se preocupar com outras coisas, bem piores durante nove meses, mas agora, volta a trabalhar, leva o seu tempo a recuperar o tempo perdido mas devargazinho e com alguma ajuda, vai lá. Não me sinto cansada ao fim do dia, estou bem, por estranho que pareça o estar todo o dia a trabalhar, sentada não dá cansaço físico, mas sim psiquico, ao contrário dos dias passados em casa, como eu não estava muito tempo parada, chegava ao fim do dia cansada. De qualquer forma, deito-me cedo, tenho mantido a minha rotina da leitura, não tenho ido por à escola os miúdos, ainda não me consigo preparar em tempo útil de os ir pôr à escola, mas com tempo vou lá

dias seguintes- 1 e 2 de Maio

Primeiro fim-de-semana a trabalhar, o tempo é pouco, tem de ser bem aproveitado, mas a verdade há compromissos a que não podemos fugir. No sábado, estive a servir de motorista, levar um à Kidzania, e o meu marido e filho mais um amigo ao ténis. Ao fim da tarde repetir o mesmo itinerário. Entretanto, dei uma volta no Dolce Vita Teja, bela porcaria pelo menos para mim. Fui às compras de supermercado e pouco mais. No Domingo, a prol também foi ao ténis, é um vício saudável, mas desta vez levaram o carro, antes disso tive de me organizar para ir ao supermercado. É preciso não esquecer que a próxima semana, é toda a trabalhar, e como tal a casa tem de estar abastecida para os meus comilões. Bem-vinda de volta às compras de supermercado ao fim-de-semana, cheios de gente, filas intermináveis de pessoas, já me tinha desabituado, mas tem de ser. depressa nos habituamos às rotinas a que o trabalho nos obriga.

Dias seguintes - 29 e 30 de Abril

Lá fui para o emprego a baixa terminou a doença terminou (?) e por isso de volta ao mundo real. Levei um bolo para confraternizar com os meus colegas, é muito importante para mim este regresso é sobretudo sinal de que estou bem e regresso para trabalhar. O primeiro dia foi confuso, todos muito simpáticos vieram cumprimentar-me, alguns eu já não via desde que fiquei doente. Ofereceram-me um ramo de flores lindissímo. E mais importante ,já começei a produzir trabalho. Começo com muita calma, tem mesmo de ser, a minha cabeça depois da QT não é a mesma, ainda estou um pouco desmemoriada, tenho de recuperar os procedimentos de trabalho, com calma um a um. No final do 1º dia estava com um pouco de dores de cabeça, mas é natural. O 2ª dia já estive mais adaptada. Vai ser um dia de cada vez, sem grandes stresses porque a minha saúde não o permite.
Por estes dias a minha prima que está doente, também soube que tem de fazer QT. Não é de admirar, pelo menos para mim. Não sou médica, mas desde que fiquei doente, informei-me melhor sobre esta doença e como tal para mim não foi surpresa. Mas para ela foi, julgo que não houve alguém que lhe abrisse os olhos e lhe mostrasse a realidade. É estranho, mas quando se passa connosco, por muito que saibamos, nunca queremos acreditar. Já lhe dei o meu apoio ao longe porque ela vive no Porto, mas mostrando-lhe o meu exemplo, acho que é suficiente. A verdade é que esta doença me tornou mais forte, para encarar as tempestades e já não as olho como tão perigosas. Por enquanto, vou dando notícias neste blog, com a frequência que o tempo me permitir.